terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Lapidadeira...

Não desejo ser como um morcego,
Que vigia em meio à escuridão
Em busca de alimentar-se do liquido vital de outro.

Não quero subsistir de um sangue que não é meu
Que o egoísta rouba tão incisivamente
Do inocente adormecido.

No entanto, por vezes me pego agindo como vampiro
Que morde um ser tão pungente quanto eu,
Esperando que se torne mais um de mim...

Mas quem sou eu?
Quem sou eu para lapidar até mesmo as pedras?
Se nem as pedras frias que vivem ao redor de um vulcão em erupção deixam de ser pedras.

Bárbara G. Parisi

domingo, 23 de outubro de 2011

O sol maior...

Eu naveguei na imensidão de um lamaçal

E lá fiquei alguma vida,
Abraçada com a sombra do que queria partir


Uma luz amarela me atraiu para superficie da lagoa de lamúrias

E de lá eu vi uma pequena flor de lótus brotando

De toda minha sujeira nascia uma aprazível vida...

O brilho amarelo vinha dos olhos

Olhos de Citrino,
Que transformaram toda lama em terra fértil, pronta para receber mais vida.


Todas as noites que tento adormecer

Alguma coisa em mim reluta contra o sono

Pois meu sonho real é infinitamente mais doce do que qualquer experiência onírica...


Quando escutei os tambores surgindo do seu interior, Sol maior
Aquela sombra se foi,

E permaneceu comigo somente o brilho dos teus olhos de citrino.

O Citrino mais valioso que já senti...

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Tegumento...

Depois de muito tempo procurando sementes,
Avistei nascer no meu vaso de terra seca uma frágil vida...
Não foi plantação minha, mas tornou-se.

Meu vaso passou a ser iluminado
Por uma luz que também não era minha
E tornou-se...

Você cresceu tanto...
Eu só te ofereço uma fonte quase escassa de água...
E você cresce,abre,nasce,renasce,vive...

Todo que você merece não cabe neste vasinho desgastado,
Que implora por uma plantação que de tão velha amarela é...
Eu queria ter dar uma vargem colossal, permanente em algum lugar escondido em mim.

Mas agora minha seiva é bruta, minha seiva é tão bruta...
E todos os jardins suplicariam pela harmonia de suas luzes.

Quando meu eu vaso ficar pequeno demais para você
Eu prometo te libertar sem perder nenhuma folha sua...
Porque você...

Umedeceu minha terra
Iluminou o meu jardim
E floresceu dentro de mim...

Todos os jardins suplicam pela harmonia de suas cores...


Bárbara G

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Macro automático...

Às vezes eu me pego vendo em macro,
Sabe?
Quando você foca em um ponto fixo e todo o resto fica embaçado?
E isso até um tempo me incomodava, tinha a sensação que perdia detalhes ensopados de carniça que eu simplesmente não queria ver.
Mas se eu não vejo, porque tudo isso ainda me angustia tanto?

Então eu descobri,
Todas as coisas do mundo se comunicam com a gente de diferentes formas,
Aquele menino sentado me contava sobre a vida com seu violão...
A menina tímida e sonhadora me dizia com os olhos...
O garoto confuso e perdido me falou com as mãos.

Eles me disseram que as pessoas olham, mas não enxergam.
E que a palavra é o instrumento mais longe do coração, porque antes de chegar à boca ela é filtrada pelo cérebro.

Por mais que elas não digam nada, todas as pessoas quando falam exteriorizam um pouco de si, um pouco da insegurança nos lábios trêmulos, um pouco do medo nos olhos piscantes, um pouco de tudo em todo sorriso.
Então por mais que os lábios mexam mudos, você vai escutar.

Bárbara Gimenez

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Forma de biscoitos...

Hoje eu vi um homem saindo da rodoviária, ele engolia um pedaço de pão de queijo e carregada a sua vida em uma mala de rodinhas... Aquela mesma cara de decidido me cansava um pouco, e quando eu estava quase certa de que não precisa ver mais nada, seu olho brilhou com água.
Naquela hora eu realmente quis saber sobre ele e tudo que o cercava, mas ele limpou a gota escondida com a mesma decisão do seu olhar e procurou dos lados por alguém que tivesse visto, como se fosse errado.
E ele se acha decidido demais para mudar, importante demais para errar, vivido demais para aprender e maduro demais para sentir...
E quanto mais tempo passa, menor fica sua bagagem e mais fácil fecha sua mala de rodinhas, porque crescem os anos e diminui a alma.
Quando o homem abre seu casulo de concreto, ele acredita cegamente que ninguém e nem nada é capaz de ensinar alguma coisa para ele, afinal, ele já sabe tudo, não é? Ora, ele ganha até dinheiro!
Pode ser que eu esteja exagerando, talvez seu erro fosse só um, ao invés de deixar o casulo nascer, ele construiu, como todas as coisas que passaram por ele, porque os homens vividos acreditam que as paixões o amor e os sonhos são coisas de jovens imaturos, então eles robotizam tudo... Quando na verdade imaturo é quem racionaliza tudo, porque só vive quem sente.


Bárbara G

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A ópera dos mudos

Não via meu rosto assim há tanto tempo, nem seus olhos castanhos...
O abraço guardado perdeu o tempero, mas o amor o manteve quente.
E em todos os quadros que até agora pintei coloquei seus velhos traços, espero que se contente em saber que já decorei cada ângulo.

Quantas vezes já me encontraram escondida com medo de encarar um estranho...
E quando eu decidi seguir em frente...
Eu vi...

O suor dos corpos virando um só...
Ali eu cometi meu maior erro,
Pois escutei a mais sublime música do teu coração...
E eu podia ter tapado os ouvidos, mas eu nunca falhei no meu exagero.


Já haviam me dito sobre seu olhar, e eu insisti..
Eu quis me aprofundar e me molhei e me afoguei e me encontrei dentro do seu...
Lago tão escuro, e pela primeira vez eu recusei uma salvação...
E dormi no sono mais puro...

Se te contar que o caminho é afável agora
Eu estarei só me enganando...
O preto e branco que invade esta paisagem lúgubre, é o mais nefando...

E no abismo de neblina que decidi pular
Eu vi voando seu esboço
E agora eu quero te pintar de novo, de novo e de novo...
Até a noite iluminar-se pelo seu sorriso brando...

terça-feira, 26 de abril de 2011

Discurso Frívolo

Hoje concluo que este é o sentimento mais triste que já conheci, pois vejo nos olhos que eram doces, caminhos egoístas e pobres, o leve confundiu-se com vazio e o ladrão acabou por tornar-se a vítima.
De todas as estações do ano que já vivi, este é o outono mais frio e injusto, toda ventania que por ti passou levou um pedaço de gente que existiu no seu ser, agora nú você lamenta...Não existe alma que aqueça o corpo insistente enterrado no gelo.
E no meio do furacão de angustia eu seguro na única matéria imóvel e tento imaginar o que foi que aconteceu, a ordem cronológica de meus pensamentos deixa-me tão compungida, que vejo que do sorriso surge à lamúria e dela nasce repulsão, seguida de melancolia... A nostalgia faz-me pensar naquelas antigas mãos calmas e quentes que desapareceram... Por que viraste urso hibernando no inverno?Acabou por esquecer-se do riso do menino, da brancura do floco de neve e da leveza do dia após dia.
Meus olhos penosos te mostram o retrato da sua maior perda, você sempre tentou enganar-me com centenas de aparências harmoniosas, descobriu hoje minha cegueira, e os sentimentos que me cobrem esta noite são tantos que sonho em limitá-los.
Ah,seu urso maldito!Olha só a que sensações me reduziste?Meus olhos sorriem ao contrário, enquanto a futilidade reina dentro dos seus, por isso enrolo em vão este papel, e encerro menos infeliz que no início.
A parte mais dolorosa do tempo não é a morte, porque mesmo com ela a substância humana ainda permanece, a pior dor é ver viva uma pessoa que perdeu sua essência em qualquer garoa fina...

Bárbara G